Comprovantes de transações ligam parlamentar a empresas ligadas a grupo criminoso
As investigações da Operação Ragnatela revelaram que o vereador Paulo Henrique (MDB) usava os recursos do Sindicato dos Agentes de Regulação e Fiscalização do Município de Cuiabá (Sindarf), do qual era presidente, para realizar transações pessoais e ligadas a ganhos por serviços prestados a uma organização criminosa.
Segundo o documento, as provas vieram a partir da analise do sigilo telemático de Paulo Henrique, por meio do qual os policiais identificaram “elementos que podem configurar uma retribuição financeira recebida pelos serviços prestados à facção criminosa”.
A operação investiga um grupo organizado que lavava dinheiro para uma facção criminosa da Capital, por meio de shows de cantores nacionais. O caso é investigado pela Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), composta pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil e Polícia Militar de Mato Grosso.
A Polícia identificou ainda que Paulo Henrique usou recursos do sindicato para pagamento de despesas pessoais. A exemplo do comprovante da compra de uma bolsa no valor de R$ 5,9 mil na empresa Troca de Luxo, no dia 28 de fevereiro de 2023.
“A compra, efetuada com recursos do SINDARF, sugere que o vereador se utiliza das contas bancárias do sindicato para realizar transações pessoais sem que possa identificá-lo como responsável”, diz trecho do documento.
A informação, conforme os investigadores, se torna relevante quando analisada junto ao fato do sindicato ter recebido material de construção pago pela empresa W.A. da Costa Pereira, que está em nome de Willian Aparecido da Costa Pereira, o “Gordão”, proprietário de casa noturna que teria lavado dinheiro do crime organizado.
O valor pago pela empresa nas telhas foi de R$ 10.545,00 e o endereço mencionado na nota para entrega foi o do sindicato. “Este fato reforça ainda mais o laço entre Paulo Henrique e a organização criminosa, configurando mais um indício de que ele se utiliza do sindicato para suas operações
financeiras ilícitas”, diz trecho.
Crime em família
Os investigadores encontraram também um comprovante de transferência bancária de R$ 1 mil enviados por Rodrigo Leal ao vereador, no dia 25 de março de 2022. A transferência foi feita pela empresa Dallas Bar Eireli e o comprovante é direcionado a Polyana Alejandra Villalva, ex-mulher do sobrinho do vereador.
A conexão familiar, conforme a investigação, indica possíveis “laços e interações entre essas pessoas em relação aos eventos e atividades sob investigação”.
A Polícia identificou diversas transações com valores semelhantes, ocorrendo de forma sistemática no ano de 2022. O padrão indicaria uma “relação financeira consistente entre Paulo Henrique e Polyana, sugerindo uma possível “movimentação financeira contínua em benefício de Polyana.
A Polícia suspeita que os valores sejam referentes a uma possível “dívida, favores ou outros acordos financeiros” entre os dois.
Lava Car
Foram identificadas sete transações financeiras entre a conta pessoal do vereador e a empresa Expresso Lava Car e o Complexo Beira Rio Eventos, que pertencem a William Gordão, membro da organização criminosa. As transferências totalizaram R$ 15 mil.
Outras transações que chamaram a atenção da Polícia foram de R$ 2 mil em 2021 e de 2,5 mil em 2022. As primeiras da empresa Dom Carmindo, usada pelo investigado Rodrigo Leal para lavar dinheiro para a organização, para Paulo Henrique e a segunda para a empresa Dallas Bar.
Essas transações, segundo a Polícia, seriam mais uma prova do vínculo financeiro entre Paulo Henrique e as empresas associadas a atividades de lavagem de dinheiro. A Polícia ainda suspeita que há possibilidade das transações de grande valor serem feitas em espécie na tentativa de esconder os rastros.
A Polícia encontrou mais outras sete transações entre a conta do sindicato e a empresa Expresso Lava Car, totalizando R$ 67,9 mil. “Destaca-se que essas transações seguiram um padrão mensal, sendo um indício de pagamento programado”, diz trecho do documento.
Outra prova de um laço financeiro entre o vereador e Willian Gordão foram um comprovante de pagamento no valor de R$ 1,8 mil feito ao empresário e um cheque em branco também em nome dele encontrada na galeria de Paulo Henrique.
A Polícia acredita que o vereador ocultava os bens, uma vez que “apesar de possuir uma renda bruta mensal expressiva”, ele não tinha “bens patrimoniais registrados em seu nome, uma inconsistência que também levanta suspeitas consideráveis”.
(Via: MidiaNews)