“Obra interminável” completa mais 1 ano parada; comércio detona

Comerciantes reclamam de insegurança, mau cheiro e “paradeira” nas vendas

Mais um ano se passou e a promessa de revitalizar a Praça José Rachid Jaudy, na movimentada Avenida Isaac Póvoas, no Centro de Cuiabá, segue sem sair do papel. 

“Era um ponto muito bom com a praça aberta, perto de tudo, tinham muitos comércios na região. Mas fechou a praça, começaram os roubos e o movimento caiu na base de 90%”

Para comerciantes e moradores da região, ver a praça aberta ao público se torna um sonho cada vez mais distante. A espera para a entrega da obra, prometida pela gestão do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), já passa de dois anos e não há sinais de qualquer avanço.

Em maio de 2023 o MidiaNews visitou a praça e mostrou o abandono em que a obra se encontrava (confira AQUI). Um ano depois, ela não só segue parada, como está ainda mais deplorável do que antes. 

Os tapumes de metal que cercavam a “obra” sequer estão todos de pé. Duas das placas já vieram abaixo, facilitando o acesso ao interior da praça que, segundo comerciantes do entorno, serve de moradia para cerca de 20 pessoas em situação de rua. 

Basta passar ao lado para sentir o forte odor. Alguns passos para dentro do “cercado” e o cheiro logo se intensifica. Folhas secas se acumulam no chão entre o matagal que cresce e o lixo que se multiplica. 

Uma rápida olhada foi o suficiente para ver dezenas de marmitas com restos de comida jogadas em um dos novos “acessos” da praça. 

O cheiro chegou a ser tão desagradavel que, certa vez, os comerciantes pensaram que havia um corpo em decomposição e terminaram por encontrar um cachorro morto no local. 

Reféns do medo 

Há 15 anos trabalhando em um restaurante em frente à praça, Eloisa Maria do Nascimento, de 41 anos, viu seu sonho de um futuro melhor se tornar um pesadelo. 

Ela e a família assumiram o ponto comercial atrás da praça, há cerca de três anos, e viram de perto o movimento definhar após o fechamento da Rachid Jaudy. 

MidiaNews

Lixo se acumula dentro da Praça e causa mau cheiro na região

“Era um ponto muito bom com a praça aberta, perto de tudo, tinha muitos comércios. Mas fechou a praça, começaram os roubos e o movimento caiu quase 90%”, conta. 

“Esse restaurante está aqui há pelo menos 20 anos, e tem gente que não conhece, a gente fica tampado aqui. E quem não é visto não é lembrado”, desabafa. 

Hoje o estabelecimento sobrevive por meio dos pedidos de delivery. Uma ou outra cadeira, das dezenas de mesas vazias, é ocupada por clientes que vão até o estabelecimento. 

“Antigamente as comandas que iam de 0 a 100 esgotaram, e a gente precisava usar o lado avesso. Hoje as comandas não chegam nem ao número 30”, conta. 

A empresária ainda doa em média 20 marmitas por dia a todo e qualquer pedinte que aparecer em sua porta. “Temos medo de represálias, porque se você não der eles entram e roubam”, disse. 

Segundo Eloisa, nos últimos dois anos foram cerca de dez invasões ao seu estabelecimento, onde, além de destruir o local, eles fazem a “limpa” nos mantimentos. 

“Eu fico pensando: será que eu apostei errado? Será que eu não deveria estar fazendo outra coisa? Será que vale a pena ficar quebrando a cabeça?”. 

A atendente de um quiosque que trabalha no entorno da praça há cerca de 10 anos, e que preferiu não se identificar, afirmou que o medo tem sido um companheiro diário. 

“De manhã, quando a gente chega, sempre aparecem aqui e pedem comida. Eu dou, tenho medo, vai que eu nego e eles voltam e fazem coisa pior. Tem que trazer uma caixa pra vender e outra pra dar”, diz a atendente. 

“De manhã, quando a gente chega, sempre aparecem aqui e pedem comida. Eu dou, tenho medo, vai que eu nego e eles voltam e fazem coisa pior. Tem que trazer uma caixa pra vender e outra pra dar”

Ela conta que nunca foi abertamente ameaçada, mas o “pedido” é sempre feito de forma intimidadora. 

Recentemente o quiosque foi alvo de furto. “O prejuízo foi grande. A gente não sabe se deixa as coisas ou se leva embora. O medo de chegar aqui e não ter mais nada?”

Dono de um estacionamento localizado atrás da praça, seu Francisco Bezerra Barbosa, de 63 anos, fala com indignação sobre a obra parada. 

“Eu trabalhava no Mercado Municipal. Aí derrubaram tudo e cada um foi pra um lado. Estou aqui há uns 10 meses. Essa situação atrapalha o movimento de todos nós. Disseram que iam reformar e nunca reformaram, e nem vão”, diz ele, descrente. 

O estupro que nunca aconteceu 

Os comerciantes citaram em peso o emblemático caso do “estupro da Praça Rachid Jaudy” que, na realidade, nunca aconteceu. 

“Uma grande mentira. Dizem que aqui foi estuprada gente e não foi estuprado ninguém. Fecharam a praça e nisso foram levando dinheiro e as coisas foram ficando paradas e nada se conclui”, diz seu Francisco. 

No dia 8 de fevereiro de 2022, uma adolescente de 14 anos disse ter sido estuprada por dois homens dentro da praça. O relato, com detalhes sobre a ação violenta dos supostos agressores, comoveu a Capital à época. 

A Polícia Civil concluiu o inquérito que investigou o suposto estupro em meados de março daquele ano e descartou que o crime tenha sido cometido no local.

Segundo o delegado Fabrício Pagan, da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), era “impossível” que a menor tenha sido estuprada no dia, hora e local em que disse.

Veja a situação de abandono:

(Via: MidiaNews)