Advogado é suspeito de ter campanha bancada pelo CV | (Via: Folhamax)
O advogado Ary Campos, candidato a vereador por Rondonópolis (215 km de Cuiabá), representando o Partido dos Trabalhadores (PT) , assinou, nesta segunda-feira (30), um termo de colocação de tornozeleira. O petista é um dos alvos da operação Infiltrados deflagrada pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Rondonópolis na última sexta-feira (27).
A ação mirou integrantes de uma organização criminosa envolvida no tráfico de drogas em 21 bairros da cidade. Foram decretados, pelo Núcleo de Inquéritos Policiais de Cuiabá, 26 mandados de prisão preventiva, 34 mandados de busca e apreensão e 13 medidas cautelares diversas Na sexta, nove veículos e R$ 181 mil em espécie estão foram apreendidos pela Polícia Civil.
Entre os veículos, estão uma Range Rover Evoque e um BMW. Apenas com um dos alvos da operação, os policiais civis encontraram R$ 90 mil em espécie.
A equipe da Derf Rondonópolis apurou elementos probatórios que demonstram a atuação do grupo, desde 2021, em uma estrutura de organização criminosa responsável pelo monopólio da venda de drogas na região da Vila Operária. Além do tráfico, o mesmo grupo organizou rifas, bingos e torneios de futebol para arrecadação de valores destinados à facção criminosa.
Ary não foi alvo de mandado de prisão em decorrência de uma regra do Código Eleitoral que proíbe a prisão de candidatos nos 15 dias que antecedem a eleição, que tem o primeiro turno marcado para o dia 6 de outubro. Na sexta, os policiais cumpriram diligências na casa do jurista, no escritório e em uma loja. Durante o cumprimento, a PC apreendeu computadores, celulares, uma pistola calibre .380, três carregadores e 35 munições do mesmo calibre. Com o petista não estava em casa, os investigadores precisaram arrombar o portão para poder dar continuidade ao andamento do trabalho investigativo.
“Ele compareceu na delegacia para assinar o termo de colocação de tornozeleira eletrônica e tomar ciência dos autos. Ele estava acompanhado de uma comitiva de aproximadamente 50 a 60 pessoas”, informou o delegado Santiago Sanches, ao Agora MT, nesta segunda (30). Cinco pessoas que estavam nessa comitiva foram presas e uma adolescente apreendida.
A investigação da Derf revelou que apontou indícios que a Associação dos Familiares e Amigos de Recuperandos de Rondonópolis (Afar) foi criada com o objetivo de promover uma organização criminosa junto aos bairros da região da Vila Operária, onde o grupo comanda o tráfico de drogas.
A Afar foi alvo de mandado de busca e apreensão, sequestro de bens e bloqueio de valores e sua presidente, Luíza Vieira da Costa, de 29 anos, foi presa. A decisão do Núcleo de Inquéritos Policiais de Cuiabá determinou ainda a suspensão das atividades e o repasse de valores que a entidade vinha recebendo da Prefeitura de Rondonópolis.
Um termo de colaboração estabelecido em abril deste ano entre o órgão público e a Afar, a prefeitura se comprometeu a repassar o montante de R$ 120 mil anuais para as atividades da associação, que foi declarada de utilidade pública conforme a Lei 13.161/2023, aprovada pela Câmara Municipal no ano passado.
A Derf de Rondonópolis apurou ainda indícios de que a associação foi utilizada para a lavagem de dinheiro e realização de eventos e assistencialismo em benefício da facção criminosa e ainda a promoção da candidatura de Ary.
Informações levantadas ao longo das investigações apontaram que o domínio do tráfico de entorpecentes se estendia a outras atividades como a realização de bingos, rifas e torneios de futebol para angariar dinheiro que seria, em tese, revertido nas ações assistencialistas, como a distribuição de cestas básicas, recurso adotado pela organização criminosa para se aproximar das comunidades, especialmente de jovens e crianças, visando difundir a ideologia do crime e da violência sob auxílio social aparentemente inofensivos.
A associação promovia a entrega de cestas básicas, brinquedos e doces em datas comemorativas, como também patrocinava torneios de futebol, com o objetivo de desenvolver empatia junto à comunidade local, buscando dessa forma mais adeptos à facção, trazendo maior efetividade em suas ações criminosas.
Os irmãos da presidente da Afar atuavam como líderes do tráfico de entorpecentes na região da Vila Operária, que abrange 21 bairros de Rondonópolis. Os dois irmãos e uma irmã dela, todos alvos da Operação Infiltrados e foragidos até o momento, foram também investigados e alvos de outra operação, a Reditus, de 2018.
Uso político
Durante a investigação que embasou a Operação Infiltrados, a equipe da Derf reuniu informações que apontavam o uso da associação para angariar apoio popular para elegerem candidatos a cargos políticos. Um grupo em aplicativo de mensagens foi criado com esse intuito, com a obrigatoriedade dos integrantes em permanecer, sendo vedada a saída e com determinações das atividades que deveriam ser realizadas, além do compartilhamento de frases e símbolos em alusão à organização criminosa.
Em abril de 2024, a Afar assinou com a Prefeitura de Rondonópolis um termo de colaboração para repasse mensal de R$ 10 mil mensais (120 mil/ano). A estratégia era a inserção do advogado da associação, vulgo “Capitão”, como candidato à Câmara de Vereadores do município.